Há algum tempo, minha amiga e escritora Débora Consiglio compartilhou nas redes sociais uma publicação que trazia uma lista de dez livros nacionais contemporâneos para ler neste ano. Como ela mesma disse em sua postagem, “apesar da presença nula de mulheres, é uma lista bacana”. Para ser justa, a tal lista indicava um livro escrito pela Lilia Schwarz – o famoso “coringa” que tranquiliza a consciência de quem faz curadorias e divulgações, só para dizer, “oh, não somos sexistas – veja, temos uma mulher na lista”.
Se houvesse uma maneira de revirar os olhos com palavras, eu o faria. Se este fosse um texto ficcional, o narrador diria “Então, Mariana disse, revirando os olhos em fúria” e, em seguida, falaria sobre a lista.
Bem, como forma de compensar esse terrível equívoco, resolvi criar a minha própria lista, porém apenas com livros escritos por mulheres, talvez para mostrar que, sim, é possível incluir mais mulheres nas listas de indicações, nas estantes, nas livrarias, em eventos, palestras, seminários, mesas literárias – inclusive, até, na Academia Brasileira de Letras.
Muitas dessas autoras eu não conhecia até me tornar mediadora do clube de leitura Leia Mulheres aqui em São José dos Campos – SP. Se você ainda não conhece a proposta desse projeto de incentivo à leitura, convido a conhecer, pois com certeza mudará sua forma de enxergar a literatura escrita por mulheres. Os clubes de leitura Leia Mulheres estão presentes em todos os estados do Brasil e até no exterior. É um orgulho fazer parte dessa iniciativa!
Então, sem mais demora, vamos às indicações.
Carol Rodrigues – Sem vista para o mar: contos de fuga

Conheci a Carol na Festa Lítero-Musical (FLIM) 2019, quando ela conduziu o primeiro grupo de residência literária do festival, do qual tive o privilégio de participar. Esse é o livro de estreia dela, de 2014, com contos que nos fazem ter certeza de que essa é uma das grandes autoras da nossa geração. A Carol é vencedora do prêmio Jabuti e agora é curadora da nossa amada FLIM aqui em São José dos Campos, além de ser uma pessoa doce, que sorri com os olhos.
Ryane Leão – Jamais peço desculpas por me derramar

A Ryane é daquelas poetas que, com palavras afiadas, cria espelhos nos quais podemos nos reconhecer sem dificuldades. A potência da mulher, o amor, o afeto e a resiliência são alguns dos temas que encontramos nesse segundo livro da escritora, mais conhecida pelo seu perfil do Instagram Onde Jazz meu Coração.
Veronica Stigger – Opisanie Swiata

Eu já tentei pronunciar o título desse livro inúmeras vezes, sem sucesso, mas sei que significa “descrição do mundo”, em polonês. Aliás, é um livro que já li mais de uma vez, porque é delicioso. Comprei em uma promoção, por causa da capa e do título inusitado, e que surpresa agradável encontrei dentro de um projeto gráfico primoroso da Cosac Naify. Nesse que é seu primeiro romance, escrito em 2013, Veronica traz um divertido e sensível relato de viagem ficcional, que com certeza vai fazer você viajar sem sair de casa.
Conceição Evaristo – Poemas da Recordação

O que falar da Conceição Evaristo? Essa mulher é uma força da natureza, uma simplicidade que comove com sabedoria e grandeza. Seus “Poemas da recordação” são repletos de críticas sociais, mas também emocionantes, suaves, como se ela quisesse desenhar um céu azul pairando sobre a desolação da realidade sofrida de tantas pessoas invisibilizadas em nosso país. Leiam!
Marcia Wayna Kambeba – Ay Kakyri Tama: Eu moro na cidade

Poesia, fotografia, conscientização e um olhar atento sobre a vida e a natureza – é isso que a autora Marcia Kambeba traz para nós nesse livro inspirador. Através de seus versos, a autora nos conta um pouco da história de sua etnia Omágua/ Kambeba e suas tradições, além de nos propiciar reflexões sobre a vida na cidade versus a vida em equilíbrio com o planeta. Precisamos cada vez mais valorizar o trabalho de autoras indígenas, que contribuem para manter viva a cultura de seus ancestrais.
Angélica Freitas – Um útero é do tamanho de um punho

Ao ler esse livro de poemas, a gente ri, se identifica, chora, sente raiva e fica com a certeza de que ser mulher nesse mundo machista é uma tarefa árdua. Angelia Freitas é sarcástica, intensa, engraçada e indispensável para os nossos tempos. Esse é o segundo livro da autora, lançado em 2012 pela Cosac Naify e reeditado pela Companhia das Letras em 2017. A Angelica também está prestes a lançar um livro inédito, Canções de Atormentar. Já estou ansiosa!
Alice Ruiz – Outro silêncio

Você conhece os haikais? Esses enigmáticos textos são poemas curtinhos, que costumam trazer temas filosóficos profundos em poucas palavras. Alice Ruiz estuda essa tradição japonesa desde os anos 1980, e neste livro traz belos “silêncios” para nós. É uma excelente companhia para dias turbulentos, em que precisamos de paz e de um espaço para meditar.
Liliane Prata – O mundo que habita em nós

Lançado pela Editora Instante, esse livro da Liliane Prata é um presente, um texto que não se esgota de tão repleto de possibilidades. A autora apresenta diversos questionamentos relevantes aos nossos tempos, e nos proporciona um mergulho em nosso mundo interior. Conhecer o mundo que habita em nós é essencial para que possamos lidar melhor com o que nos cerca. Recomendo muito, inclusive já estou com vontade de reler – e também de fazê-lo com um caderninho do lado, porque sempre surgem uns insights e ideias preciosas.
Maria Valéria Rezende – O voo da guará vermelha

Eu me lembro de ficar um pouco abismada após ler esse livro, não só pela beleza da narrativa e da construção estética que a autora utiliza, mas porque o tema me fez passar um bocado de tempo pensando em quão privilegiada eu sou por ter aprendido a ler e escrever, por ter tido acesso a livros desde pequena e por ser capaz de contar histórias. Os personagens de Maria Valéria, nesse livro, nos ensinam que a salvação pode vir de coisas simples, e que ajudar ao próximo é tão fácil quanto simplesmente ouvir suas histórias.
Mariana Salomão Carrara – Se deus me chamar não vou

Uma menina de onze anos com um olhar crítico sobre o mundo é a narradora dessa história com a qual me identifiquei absurdamente, não só porque Maria Carmem quer ser escritora, mas porque sua alma parece mais velha que a de outras crianças de sua idade. Talvez eu tenha sido uma criança assim, como ela, um lápis de grafite quebrado. Apesar de o livro ser curto, e ser uma leitura “rápida” de se fazer, com certeza permanecerá com você por muito tempo.
Bônus
Mariana Zambon Braga – O garoto mais perdido de todos

Já que estamos falando de autoras contemporâneas, acho que nada mais justo que eu falar de mim mesma, não é? Nesse conto, que fez parte da antologia Vivendo na Terra do Nunca, Peter Pan não é o que parece ser. Quem nos conta isso é a própria Sininho, que também parece não acreditar muito no que acabou de descobrir. Qual será o grande segredo de Peter? Corre lá na lojinha para adquirir o seu e conhecer o lado sombrio desse heroi.
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