Minha vó sempre dizia que Deus fez as bibiliotecas para que as pessoas não tenham desculpas para serem tão estúpidas.
– Joan Bauer
Hoje comemora-se o Dia Mundial do Livro, instituído pela UNESCO em 1995. A data foi escolhida pois é nela em que se comemora o nascimento e a morte de William Shakespeare (1564-1616), a morte de Miguel de Cervantes (1616) e o nascimento de Vladimir Nabokov (1899), três grandes nomes da Literatura mundial.
Nem preciso dizer que os livros são itens indispensáveis para mim, como escritora e como editora/revisora de texto. Mas, infelizmente, muitos fatores contribuem para que o livro não seja tão popular como nós, autores, editores e leitores, gostaríamos que fosse.
Para que todos gostem de ler, é preciso que o pensamento seja valorizado.
Em tempos de crise, é extremamente importante conscientizar as pessoas sobre o valor da leitura e do conhecimento, visto que no mundo todo estamos vendo um grande retrocesso em termos de evolução e valorização intelectual. Há quem negue a ciência, há quem diga que é mais relevante ler notícias e textões nas redes sociais, há quem tenha preguiça de ler clássicos e livros mais “complexos”. Isso tudo afeta o status do livro como um compêndio de informações confiáveis, como item essencial para nossa vida.
Embora o livro já esteja consolidado como um produto cobiçado no mercado – a coisa-livro como objeto de desejo, e não como fonte de conhecimento – seguimos vivendo a crise no mercado editorial. Talvez porque os investimentos sejam feitos em literatura que não é perene, em modismos, em temas passageiros voltados para um público que, em geral, não é leitor. Ou talvez porque os modelos de varejo e negócio aplicados a esse segmento sejam totalmente equivocados.
Colaboram para essa crise a ausência de investimentos em educação e pesquisa no Brasil, a desvalorização dos profissionais das Ciências Humanas e o baixíssimo estímulo à leitura de Literatura nos dias atuais. Já não há mais tantas bibliotecas ou livrarias de bairro, a contação de histórias não é mais tão presente no cotidiano das comunidades, tampouco o desejo de descobrir a magia por trás das palavras. Deveria ocorrer o contrário, já que hoje temos vasto acesso a bibliotecas digitais, inúmeros meios e aportes para os conteúdos dos livros físicos, que podem ser lidos em formato eletrônico e até apreciados como áudio.
Com tantas frentes e possibilidades, podemos dizer que o livro é um item que tem grande potencial para fazer o dinheiro girar. Por que, então, o investimento nesse setor é tão baixo?
O mercado editorial, como um todo, emprega milhões de pessoas – autores, editores, revisores, diagramadores, ilustradores, diretores de arte etc. – e movimenta a economia em escala global. Eventos como a Bienal do Livro, a FLIP, a FLIM e a Feira de Frankfurt, bem como feiras literárias e eventos do mercado de livros didáticos, contribuem para aquecer outros segmentos, incluindo o de hotéis e restaurantes.
A cadeia produtiva do livro vai desde o autor até a livraria, e conta com a participação de muitos setores. O vídeo abaixo, produzido pela Editora Seguinte, explica um pouco esse processo.
É um trabalhão, não é mesmo?
Acho que precisamos cada vez mais conscientizar as pessoas do que está envolvido na publicação de um livro. Muitas vezes, achamos que livros são caros – e eu concordo, em parte, com essa afirmação. Afinal, fica difícil aderir à leitura quando se precisa desembolsar 50 ou até 100 reais em um item que não é tido como indispensável à vida.
O que fazer para mudar esse cenário?
Penso que é um desafio de longo prazo, que teremos que continuar cobrando do governo ações de incentivo à leitura e de redução de tributos, por exemplo. Ao mesmo tempo, podemos e devemos criar iniciativas para promover o hábito de ler em nossas comunidades. Clubes de leitura, feiras de troca de livro, publicações independentes, concursos de incentivo a novos autores e reuniões literárias também são ótimas maneiras de formar um público que se interesse por essa arte.
Aos amantes da Literatura, que tal celebrar esse dia postando nas redes sociais uma foto do seu livro preferido?
Além da comemoração desse dia simbólico, é crucial que nós tenhamos consciência de como dá trabalho publicar um livro. Precisamos valorizar os profissionais do mercado editorial e prestigiar pequenas editoras e pequenas livrarias, para que possam crescer.
Uma ótima maneira de promover o amor pelos livros é optar por presentear com publicações nacionais ou estrangeiras nas datas comemorativas. É uma maneira de se posicionar e de garantir que seu dinheiro contribuirá para manter viva a cultura livreira.
Nesse cenário de pandemia em que vivemos, invista nos e-books. Na Amazon, você encontra descontos excelentes, além de vários e-books gratuitos. O Sesi também disponibilizou diversos títulos para ler gratuitamente, em comemoração ao Dia do Livro.
Além dessas iniciativas, muitas outras ações têm contribuído para movimentar essa data e o mercado dos livros em meio à pandemia, com lives, webinários, cursos online e bate-papos com autores. É o caso do Festival Digital do Livro, promovido pela Fundação Joaquim Nabuco e pelo Ministério da Educação, que ocorre até a meia-noite do dia 23 de abril.
Mais livros, menos estupidez.
Voltando à citação que incluí lá no início do post, talvez ela própria consiga responder por que se investe tão pouco em livros e leitura. Afinal, não interessa aos poderosos que a população seja instruída e tenha capacidade de pensar com autonomia – inclusive, para questionar o sistema.
Pois bem, nesse dia comemorativo, convido você a lutar por uma realidade com mais bibliotecas e menos estupidez. O mundo precisa cada vez mais de leitores e pensadores com senso crítico e ideias para transformar a sociedade. Mais livros, menos armas. Mais leitura, menos fome, guerra, ditaduras e opressão. A literatura como salvação. Você topa?
Foto: Alfons Morales no Unsplash
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