A todo momento, em todas as notícias, nas redes sociais, só vejo absurdos. Tento não julgar, ser menos crítica, mais aberta ao outro. Não consigo. Quando o outro é a intolerância personificada, como há de prevalecer o diálogo? Vejo pessoas queridas tomando posições contrárias ao que pregam, sendo convencidas por fake news e argumentos rasos, falácias, falsos dados, ciência charlatã. Os absurdos se aglomeram em postagens que transbordam ódio “santo” e violência “cristã”.
Pessoas marchando em apoio a governos genocidas. Políticos que cospem na ciência e escarnecem de quem deseja preservar a harmonia. Empresas que enxergam funcionários como despesas descartáveis e não como patrimônio e investimento. Oposição que se cala diante do inevitável golpe. Oposição que se une aos golpistas. Bilionários recebendo aportes e auxílios financeiros, enquanto o povo miserável implora por migalhas no valor de seiscentos reais. Em análise.
Reforma trabalhista, da previdência, aposentadoria impossível, nefasta política do absurdo.
Na avenida, carros de som anunciam que o valecap paga uma grana boa, que móvel bom é no esplanada, que o restaurante bambu agora vende marmitex, é só retirar no balcão. Com toda limpeza e segurança. Para sua comodidade. Restaurantes, lojas, academias, conveniências, pressão de todos os lados para que o dinheiro flua sem freio. Mas o “Jão” nunca parou de buzinar e gritar que o picolé que ele vende é o melhor que tem. No posto da esquina, toda noite é festa, com bebida, gritaria, música alta, droga e briga de bêbados. A polícia de vez em quando dá as caras, mas vai embora.
Carros blindados fazem carreata pedindo o direito de trabalhar. Enquanto isso, o passe de estudantes está bloqueado, e o menor aprendiz não tem como sair de casa para agradar o patrão que foi protestar no domingo. Amigos apoiam os grandes empresários e têm medo da taxação das grandes fortunas, mas de grande eles só conhecem mesmo é a dívida, é o saldo negativo nos bancos ou os juros dos cartões de crédito.
Vizinhos brigam por barulho no meio da pandemia. Vizinhos brigam por causa do tamanho da árvore. Vizinhos brigam por causa do cachorro que faz barulho. Vizinhos brigam porque acabou álcool em gel. Em meio a uma pandemia. Pessoas morrem aos montes todos os dias, e vizinhos seguem brigando como se os maiores problemas fossem esses.
Dois milhões de contaminados no mundo todo. Mais de cem mil mortes. Países fechando fronteiras, pessoas em confinamento em todos os continentes. Mas o grande problema é o posicionamento político de um partido no Brasil. O grande problema é um suposto comunismo, a moral e os bons costumes que devem ser preservados a qualquer custo. Pessoas, aos milhares, vão morrer, mas o importante é que tiramos xyz do poder.
Já nem sei mais o que escrever. O absurdo é irracional, contrário ao senso comum e à razão, é impensável, incrível e bizarro. É o que hoje chamamos de realidade. É o novo normal.
Foto: Serkan Turk via Unsplash
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