Quem diria que chegaríamos tão longe, não é mesmo?
Exatamente dentro de um mês, este blog completará cinco anos de existência. São muitas as coisas que eu gostaria de dizer, diversas epifanias, publicações e inúmeros frutos colhidos desde o início dessa jornada.
Ao todo, foram 130 textos publicados desde o início. Era para ser muito mais, é claro, porém considerando todos os desdobramentos desde a singela atitude de criar um blog em maio de 2015, acho que posso perdoar a mim mesma.
Cinco anos. Nunca achei que esse projeto duraria tanto – não por falta de vontade, mas por falta de continuidade mesmo. Como já disse em um texto aqui mesmo, eu tinha uma péssima mania de não terminar o que começava, talvez por me perder, talvez por ter vontades em demasia. O ponto é que estou colocando isso no passado, porque terminar o que começo é um aprendizado que tenho conquistado com muito esforço.
Hoje, tenho um compromisso comigo: o de nunca deixar as coisas inacabadas. Se começo algo, é para ir até o fim.
Houve momentos em que pensei em desistir, sobretudo por não saber muito bem como divulgar meu trabalho, como atrair as pessoas para as minhas publicações sem perder minha essência, sem me render a modismos e cair no lugar-comum.
Mas o importante é que segui adiante, mantive a chama do sonho acesa, ainda que fraquejando e ameaçando me jogar de volta ao escuro do distanciamento, de uma existência sem arte e sem cumprir o que sinto ser minha missão.
Graças a esse ímpeto de continuar, os desdobramentos da criação deste blog em minha vida foram os mais diversos.
O primeiro deles foi perder o medo de mostrar meus textos para o mundo, o que me propiciou amadurecimento e aprendizado; saber acolher as críticas sem melindres é uma virtude que desejo aprimorar constantemente.
Depois, continuei perseguindo o desejo de me aperfeiçoar como escritora. Fiz cursos, participei de antologias e seleções de concursos, publiquei zines e comecei a fazer os meus projetos literários independentes. Participei de várias feiras de arte e de edições independentes e conheci pessoas maravilhosas. Fiz uma especialização de escrita criativa em inglês e venci a barreira de criar ficção em outro idioma. Perdi o medo de ser considerada arrogante e decidi partilhar com as pessoas o meu conhecimento e as técnicas que me auxiliam no processo da escrita, ministrando cursos e oficinas.
Em 2019, vivi um dos melhores anos de minha carreira como escritora, até então, participando da residência literária da FLIM aqui em São José dos Campos. Foi incrível e eu me senti muito honrada – inclusive porque conheci a Conceição Evaristo, o Mia Couto e, entre os outros escritores residentes, fiz amigos que levarei para a vida toda.
No início deste ano, cogitei, mais de uma vez, acabar com o blog e com o projeto; pensei em abandonar a vontade de ter minha própria editora indie, pensei em realmente parar com tudo. Dá muito trabalho escrever, ainda mais quando se sente que o mundo está prestes a ruir, com crises econômicas e políticas, pandemia, apocalipse iminente e falta de perspectiva. Ah, sem contar, é claro, os distúrbios da saúde mental que me agarraram pelos calcanhares e me derrubaram pra valer em 2019, e persistem até hoje.
Apesar de toda essa carga negativa, no dia em que decidi acabar de vez com o Mil Palavras por Dia, todos os desdobramentos daquele seis de maio de dois mil e quinze me atingiram em cheio. Com os olhos marejados, abri cada uma das postagens, cada um dos textos que trouxeram tantas alegrias para mim e para os leitores. Fui descendo a página, descendo, descendo até chegar ao primeiro post que fiz aqui, o qual li bem devagar, e desatei a chorar. Uma das últimas frases do post diz o seguinte:
Porque, no fim das contas, o que corre nas minhas veias é um fluxo contínuo de palavras sem destino, que está pedindo desesperadamente para sair.
É isso. Escrever para tirar as palavras de dentro, para saboreá-las e vê-las ganhar vida. Escrever, porque sim.
Em 2015, eu tinha trinta e dois anos, me achava velha, incapaz e sem viço, tinha um horizonte estreito e limitado à frente dos olhos. Era insegura e cheia de neuroses que hoje me fazem rir. Mal sabia de todos os perrengues que me aguardavam, de todas as oportunidades de sorrir e chorar as quais agarrei ou deixei passar.
Jamais imaginei que cinco anos à frente eu teria um emprego em uma editora, teria a minha própria editora independente, teria coragem e vontade de fazer cada vez mais.
E eu quero mais cinco, dez, trinta anos, de blog ou de escrita analógica, não importa. O que quero é seguir, colhendo os frutos, descobrindo os desdobramentos dessa aventura.
Esse blog é um pedaço de mim. Como se eu, a Mariana-escritora, tivesse nascido, de verdade, naquele dia seis de maio. Acho que posso começar a comemorar dois aniversários, por que não? Afinal, acho que o maior desdobramento de todos que a escrita tem me proporcionado é o de recuperar o gosto por viver.
Foto: Danielle MacInnes via Unsplash