Ah, o sonho… Quantos deles nascem, padecem e morrem dentro de nós ao longo do tempo em que estamos aqui na Terra?
Eu pensei que seria fácil escrever sobre o sonho e sobre o que é necessário para mantê-lo vivo, respirando e sem dificuldades. No entanto, eu só consigo pensar no título desse texto como um questionamento: Como fazer para que o sonho não morra?
Se eu soubesse a resposta para essa pergunta, estaria rica. E se eu escrevesse não sei, poderia terminar esse texto, e teríamos um excelente retrato do que se passa na minha mente, e é provável que na sua também, e na da maioria das pessoas, hoje.
Todos nós temos sonhos, não é mesmo? Sonhar é inerente aos humanos, mortais, seres que existem e racionalizam. Sonhamos com coisas, pessoas, situações – e não só enquanto dormimos, mas acordados, conscientes, desejosos do objeto que povoa nossa imaginação.
Quando o sonho está relacionado a um objeto “material” – um carro, uma viagem, uma casa – parece um pouco mais fácil conquistá-lo, pois basta juntar dinheiro para adquirir o que se quer. Sim, eu sei que economizar dinheiro é uma tarefa muito complicada, quase impossível na conjuntura em que nos encontramos, especialmente para quem é parte da classe trabalhadora. No entanto, seria justo e correto dizer que para se alcançar um sonho material bastaria ter dinheiro.
Mas, e quando o sonho não é algo que o dinheiro consiga comprar totalmente?
Ao sonhar com o alcance de uma meta, de um objetivo mensurável, mas que não requer dinheiro – aprender ou praticar uma habilidade, superar limites, encontrar um emprego, encontrar uma pessoa para dividir a vida –, aí o sonho se torna mais complexo, pois depende, em parte, da nossa disponibilidade e determinação, e, em parte, de acasos, oportunidades, sorte e outros fatores que fogem ao nosso controle.
No caso do meu sonho, em especial, posso dizer que o dinheiro resolveria boa parte dos problemas, ou melhor, daria conta de aniquilar alguns empecilhos que atravancam meu caminho. Mas não seria cem por cento suficiente.
O sonho de viver da escrita é o que me move há alguns anos, e o mais complicado de conseguir conquistar, pois não tenho muito tempo disponível para me dedicar a essa atividade da maneira como gostaria. Suponha que aparecesse, para mim, a possibilidade de receber um salário para escrever livros. Ou que eu ganhasse na loteria e conseguisse passar os dias dando vida às ideias que surgem diariamente. Seria incrível, é claro, mas seria apenas a metade do caminho.
Porque, para além do dinheiro, eu teria que fazer de tudo para manter viva a chama desse sonho, seguindo em frente na escrita e na vida que escolhi.
Pensando bem, é isso que eu faço todos os dias – exceto pelo fato de que não tenho dinheiro sobrando e tenho que trabalhar muitas horas para conseguir pagar as contas. Mas acredito que o esforço de manter-se no caminho sonhado seja o mesmo, com ou sem facilidades. Acho que tendemos a cair em um estado de amortecimento, torpor, relaxamento após atingir os estágios iniciais da conquista de um sonho, o que pode nos fazer colocar tudo a perder, caindo no marasmo e no tédio.
Isso me leva a outro pensamento, que é o do desânimo que acomete as almas sonhadoras, de tempos em tempos. Desprendemos tanta energia, nos empenhamos além dos limites, movemos mundos e fundos, e nada de conseguir o resultado que gostaríamos. Sendo assim, como não sucumbir à realidade e à falta de perspectivas?
Creio que não há outra opção para nós senão seguir sonhando. A realidade bate à porta, é claro, e nos embrutece, nos mostra que o futuro parece menos colorido do que as imagens que projetamos em nossas mentes. A utopia pela qual batalhamos parece distante, submersa em condições inatingíveis. Difícil achar que tudo é possível em um contexto que vive nos dizendo que nós, que sonhamos, somos inadequados.
Talvez o sonho, em si, seja a perspectiva de que necessitamos, por mais paradoxal que isso pareça. Às vezes me pego com medo de realizar os meus sonhos, pois parece que, sem eles, não haveria motivos para continuar. Como se a conquista do tão sonhado objeto, material ou mais abstrato, fosse abrir um vazio, que precisaria ser preenchido por outro desejo, sonho ou objetivo para justificar a minha permanência nesta vida.
O sonho é o motor da luta; sem ele, sucumbimos.
Portanto, quando obtemos o que desejamos, precisamos nos atentar para não cair na tristeza e na falta de perspectivas. Será, então, que o propósito da vida é sonhar? Diversos pensadores já se ocuparam dessas reflexões, e tendo a concordar com aqueles que dizem que sem o desejo, somos vazios, pois sonho é combustível, é fogo, é chama que nos impulsiona.
Para mim, é impossível encontrar uma resposta definitiva. Talvez, para que o sonho não se desgaste, o truque seja seguir sempre sonhando…
Imagem: Sid Balachandran – Unsplash
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