Melhor que nada

Mestre Yoda, um jedi verdinho e muito sábio do universo de Star Wars, certa vez disse para Luke Skywalker:

“Faça ou não faça. Tentativa não há”.

Parece um aforismo simples e banal de um filme de fantasia, mas é uma ideia bastante complexa, se analisarmos mais a fundo. Trata-se, em poucas palavras, de um convite a perceber que não existem tentativas, e sim chances únicas de fazer o que deve ser feito, de colocar em prática os sonhos, de ver fluir a força que há em nós.

Essa frase tem martelado demais dentro de mim, por ser extremamente verdadeira e por sintetizar algumas noções ainda mais amplas de perseverança, de busca e encontro. Eu, que sempre me peguei pensando sobre como não termino nada, sobre as tentativas frustradas do passado, hoje me deparei com a certeza de que faço, sim, e faço muitas coisas – desde as obrigações do dia a dia às garrafinhas que envio atravessando os oceanos em busca da realização dos sonhos. E nesse fazer, sempre existe a certeza de que irei obter algum resultado, seja o que esperei ao idealizar as ações cumpridas, seja algo totalmente inusitado; o que importa é que, ao fazer, para mim é como se fosse uma questão de vida ou morte, e não apenas mais uma de muitas (ou infinitas) tentativas.

Pensar assim tem me ajudado a ser menos covarde.

É estranho como basta mudar um pouco o ângulo de visão para perceber essas nuances em nossas vidas. Como nos basta um pouco de (auto)reconhecimento para enxergar que alguns limites já foram ultrapassados há tempos, só nos resta ver um pouco além do próprio nariz.  No entanto, por não ter ainda enxergado o objetivo final, vez ou outra questiono o real sentido de todo esse esforço – ou, ainda, fico às voltas com o medo de que nada disso vai dar certo, mas que pelo menos eu tentei.

Que deprimente, esse ciclo de tentar, tentar, tentar e sempre bater com a cabeça na parede! Que improdutivo, ficar às voltas consigo mesma, estar constantemente frustrada por perder o alvo em todas as vezes que se lança a flecha. Que perda de tempo, tentar, tentar e nunca conseguir!

Será que é isso mesmo? Acho que esse ensinamento do mestre jedi veio para me confundir ainda mais, ao invés de esclarecer. Tenho que tentar entender melhor isso aí! (Xi, lá vem o tentar mais uma vez…)

A bem da verdade, o que mais tenho evitado fazer nos últimos tempos é tentar. Porque, como diz o Mestre Yoda, tentar não é o bastante. É preciso colocar as coisas em prática, jogar com o tudo ou nada, confiando plenamente que haverá um retorno, seja ele qual for, mesmo que não seja cem por cento o que estou esperando.

O insight proporcionado pela frase do famoso jedi me levou a questionar outra coisa: por que continuo insistindo na mentalidade do “melhor que nada”?

Você sabe do que eu estou falando. Acho até que já escrevi sobre isso aqui no blog. É aquela ideia de que o importante é tentar, fazer o possível, e o resto se resolve. Que qualquer passo na direção do possível é válido, e que não devemos nos martirizar em busca do impossível, quando o atingível está próximo de nós.

Claro, essa é uma atitude razoável, tendo em vista que nem sempre é viável chegar aonde desejamos; nem todos os sonhos estão ao alcance da fé. Também é um incentivo para quando nos sentimos para baixo e para quando nos julgamos incapazes de dar continuidade aos projetos. O “melhor que nada” é realmente um pontapé inicial para que todos os sonhos saiam do papel e cheguem à esfera do mundo concreto.

Contudo, esse tipo de pensamento tem um prazo de validade, por assim dizer.

O que seria de todos os nossos sonhos ousados, de toda nossa vontade de fazer dar certo, se estivéssemos constantemente ligados à mentalidade do “melhor que nada”? Quantas tentativas temos até que nosso tempo se esgote, ou melhor, quantas vezes podemos falhar até que, enfim, sejamos capazes de vislumbrar o sucesso? A resposta para essas perguntas dependem de uma enorme variedade de fatores, inclusive do quanto precisamos ou queremos obter um determinado resultado.

No contexto do filme em que Yoda proferiu essa frase, Luke Skywalker está desacreditado de sua própria força. O Mestre deseja que ele realize algo que, aos olhos de Luke, era demais para ele. Inatingível, impossível, desnecessário. O mestre jedi, para ensinar ao seu pupilo, vai lá e faz aquilo que Luke julgava inalcançável.

Isso tudo para dizer: se você não acreditar que é capaz de fazer algo, nem adianta tentar fazer. 

Veja, não estou aqui afirmando que é fácil conquistar as coisas, ou batendo na tecla da meritocracia, essa falácia que nos forçam a engolir. Quero apenas refletir junto com você, caro leitor, querida leitora, sobre essa nossa teimosia em achar que somos pouco, que nossas conquistas não significam muita coisa, que somos apenas “melhor que nada”.

Em meio a tantos obstáculos da vida, ainda assim conseguimos triunfar.

Quantas vezes fomos capazes de mover montanhas com a nossa força ou escalar os montes mais íngremes, mesmo quando julgávamos que estes eram imóveis ou intransponíveis? Certamente, já houve momentos em que você pensou “Ah, estou apenas tentando, se não der certo eu tento de novo”, mas, na verdade, a vontade de fazer era tão grande, que as coisas acabaram dando muito mais certo que o esperado.

Acho que é isso que o Mestre Yoda quis dizer com “tentativa não há”. A partir do momento em que fazemos algo, colocamos em prática nosso potencial criador e as tentativas automaticamente se transformam em conquistas. Cada “tentativa” é, na verdade, um degrau que colocamos na direção do que desejamos, um objetivo atingido por si só. Cada vez que tentamos estamos automaticamente fazendo, mesmo sem ter consciência disso.

Será que entendi direito o que o mestre quis ensinar?

Seja como for, que possamos sempre vislumbrar a força que há em tudo o que fazemos, ainda que esse fazer esteja disfarçado de tentar. E que, a cada nova tentativa, tenhamos a coragem de reconhecer que já fizemos, de fato, aquilo que deveríamos ter feito: ainda que sem atingir os objetivos almejados, que fique sempre em nós a certeza do aprendizado.


Imagem: Unsplash