O que o medo nos rouba

O medo é um grande ladrão de sonhos e planos.

Nos puxa pelas pernas, nos prende ao chão com seus grilhões escuros e pegajosos. Faz morada e se prolifera em nossos corações e pensamentos, se alimenta de tudo o que é frágil e inocente. O medo nos rouba de nós, nos impede de viver em plenitude.

Você já parou para analisar quantas coisas o medo já roubou da sua vida? É um exercício doloroso, porém necessário, e me fez enxergar todos os medos que eu empurrava para baixo do tapete.

Os medos de me expor, de ser considerada uma pessoa ruim, ou de ser julgada pelos meus pensamentos, por exemplo, me impediram de divulgar meus textos durante muitos anos. Sempre que eu imaginava algum amigo ou familiar lendo o que eu escrevia, o suor frio do pavor escorria aos rios nas costas, nas mãos, na alma. Era um cenário assustador demais, me abrir a tal ponto, mostrar as feridas, os sonhos, os desesperos.

Perdi tempo demais me escondendo atrás de portas invisíveis, por medo de deixar os outros entrarem e bagunçarem a minha vida. Que, por sinal, sempre foi bem bagunçada sem a interferência de ninguém.

E tinha, também, o medo de demonstrar o medo.

O que me deixava mais apavorada ainda, especialmente em situações sociais, e principalmente na minha infância. O medo me roubou as brincadeiras com bonecas, que até hoje me assombram. Roubou também o prazer de sentir a adrenalina de experiências radicais ou bem simples, como subir no topo de uma árvore, saindo das zonas de segurança, do até aqui está bom.

Quando eu era mais nova, morria de medo de andar nas atrações dos parques de diversão, como Playcenter e Hopi Hari. Achava que ia despencar lá de cima da montanha-russa ou da roda-gigante, achava que o barco viking ia virar e eu ia espatifar no chão feito um ovo.  Em mais de uma ocasião, fiquei esperando do outro lado da grade, uma espectadora da diversão dos outros.

Na vida adulta, venci esse medo. Esse e tantos outros, como o de andar de bicicleta. Sempre o pânico, o pavor de me ver desfigurada, batendo a cara no asfalto.

Talvez eu tenha apenas medo de morrer.

O que é ridículo, afinal, todos morrem, e isso deveria ser um motivo para aproveitar a vida ao máximo, e não fugir dela. Esse medo me rouba muitas coisas. Como a coragem de saltar de cabeça nos acasos empolgantes da vida. Ou o desejo de desapegar de métodos e rotinas que não levam a nada além de neuroses.

O medo nos rouba a capacidade de experimentar aventuras, de abrir os braços para o novo. Nos sequestra e prende em uma cela de isolamento.

Nos resta analisar todas as situações em que sentimos medo e questionar: como fazer para destrancar as portas dessa prisão?

Se o medo nos rouba tanta coisa, até mesmo a própria vida, está na hora de retomar o que é nosso e viver sem receios. 


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