Autoajuda ou autoconhecimento?

Conhecer a si mesmo é um passo crucial para descobrir e entender qual é o seu papel no mundo. Quem sabe de seu propósito faz escolhas mais ponderadas, decide com mais firmeza o destino que deseja para si e quais planos e projetos fazem seu coração bater mais forte. Como resultado, quem se conhece tem mais chances de ser feliz.

É o que se espera, pelo menos.

Quem se conhece a fundo não é estatisticamente mais inclinado a ser bem-sucedido – já que sucesso é algo relativo – mas consegue se orientar de acordo com o que mais importa:  seu próprio conceito de felicidade.

Afinal de contas, isso é algo personalíssimo e intransferível.

Os parágrafos acima poderiam muito bem ser categorizados como (ou ter sido extraídos de um livro de) autoajuda, não é mesmo? Antes de chegar a conclusões ou seguir com a necessária reflexão a respeito desses temas, é preciso antes definir: o que é autoconhecimento e o que é autoajuda?

Parece um pouco difícil discernir entre um e outro. Os limites se tornam ainda mais obscuros quando tentam vender algo para nós, em livrarias, cursos, workshops, produtos de lifestyle.

A autoajuda vende muito. Já o autoconhecimento, por exigir mais esforço, acaba ficando em segundo plano.

Mas nós deveríamos nos concentrar no autoconhecimento, e não em obter fórmulas prontas sobre tudo.

As diferenças

A autoajuda promete resolver os seus problemas de forma rápida, padronizada e sem promover um questionamento mais aprofundado sobre as raízes do que está causando a situação complexa em que você talvez se encontre. É impossível ajudar a si mesmo, se você não faz ideia de quem você é.

O autoconhecimento, por sua vez,  consiste neste aprofundamento ignorado pela autoajuda. Ele não oferece uma fórmula mágica, capaz de solucionar todas as suas dificuldades ou melhorar a sua vida em 5 (ou mais) passos infalíveisAo contrário, consiste em saber de seus próprios pontos fortes e fraquezas, conhecer sua própria história (e, quem sabe, fazer as pazes com ela) e se preparar para a vida e seus desafios.

Os benefícios que alcançamos quando iniciamos a jornada do autoconhecimento são duradouros e preciosos. Ao saber quem você é, seus atos, tanto os positivos quanto negativos, serão muito mais conscientes (e consistentes). Você será capaz de analisar suas atitudes e modificá-las, caso julgue necessário ou conveniente.

Nas palavras de Carl Jung: “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta”.

Em vez de receber um manual de instruções de como viver, se comportar, fazer alguma coisa ou chegar a um objetivo, você será capaz de despertar, por completo. Acessar suas virtudes, distinguir comportamentos benéficos ou nocivos para você e para o próximo, e, por isso, ter mais facilidade de se adaptar a situações diversas. Sem esse conhecimento, os 5 passos infalíveis para qualquer coisa podem levar a uma tremenda frustração.

Já torci o nariz para muitos de meus textos, por acreditar que eles poderiam ser enquadrados na categoria de autoajuda. De fato, alguns deles trazem consigo elementos que auxiliam o leitor a chegar a alguma conclusão a respeito de suas emoções, de seus conflitos internos e sentimentos escondidos. E isso é algo positivo. Hoje, encaro tais textos como fagulhas que podem incitar um incêndio mental ou instigar processos de mudança.

A única objeção que faço a respeito de  rotular meus textos como autoajuda é que não é essa a minha intenção ao escrevê-los. Quando tiro as palavras do plano das ideias e as materializo, seja no papel ou nas páginas virtuais, meu intuito é fazer o leitor pensar. Chegar no cerne de seus sentimentos. Sentir junto comigo. Caminhar a meu lado nessa sofrida estrada rumo ao verdadeiro “eu”.

E não tenho um mapa ou um roteiro para isso.

Então, como faço para saber quem sou?

Não há um caminho definido para o autoconhecimento. Você é quem deve descobrir o que e como fazer para se encontrar e despertar. Tudo o que for utilizado nessa trajetória – terapia, contato com a espiritualidade, meditação, leituras (inclusive de livros de autoajuda), experiências – serão apenas ferramentas, e não mapas precisos a serem seguidos.

Nesse sentido, os textos de autoajuda podem, sim, ser úteis – como ferramentas, e não como soluções. É prudente não se entregar cegamente a esses “manuais de como viver”, pois há grandes chances de não funcionarem para nós.

Cada ser humano é único, portanto o autoconhecimento não funciona da mesma forma para todos. Busque o que for melhor para você – a partir das definições de quem você é, do que você gosta, para onde deseja ir, etc.

A vida é curta demais para ficar seguindo os passos dos outros.

“Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente, encontrar-te-ás a ti mesmo e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas”         – Pablo Neruda

O autoconhecimento nos torna pessoas melhores.

Vez ou outra, me pego pensando na pessoa que eu gostaria de ser. Olho para as mulheres que admiro, os exemplos de pessoas que desejo imitar, enumero suas qualidades e procuro traçar um paralelo entre nós, nossos caminhos, contextos e propósitos. Consigo, assim, enxergar tudo o que sou com mais nitidez e clareza.

Isso é o que funciona para mim, o que me ajuda a evoluir.

Quando não sabemos quem somos, ficamos à deriva, à mercê do que o mundo nos oferece, por vezes surfando em ondas que nos arrastam até um muro de pedras ou para o fundo do mar, nos fazendo colidir com perigosos corais de decepção e medo.

Ao identificar quem você é, seus gostos e preferências, suas virtudes e defeitos, as características que compõem sua personalidade, é possível escolher os pontos que deseja aprimorar ou eliminar. A partir desse “mapa” de si mesmo, tudo fica mais simples.

Por exemplo: Se sou uma pessoa tranquila, caseira, que gosta de estar em ambientes sossegados, e sei disso a meu respeito, posso usar essa informação para evitar situações que contrariem essa minha preferência. Ou então, posso trabalhar minha personalidade, lapidá-la, introduzir elementos mais aventureiros ao meu dia-a-dia e deixar de lado o que é confortável.

O autoconhecimento é, então, o ponto de partida para alinhar todos os elementos necessários para cumprirmos nossa missão na Terra. É, em última instância, o próprio propósito de estarmos aqui.


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