Escrever mais ou escrever melhor? E para quem?

O velho questionamento “fazer arte ou fazer dinheiro?” tomou conta de mim nos últimos dias.

Retomei o hábito de escrever diariamente nos meus cadernos. É uma sensação estimulante, de liberdade, conexão com minha mente, as matérias mais profundas que surgem nesse meu universo-umbigo e também fora dele. Comecei a sentir a necessidade de pensar seriamente que rumo devo tomar na minha vida de escritora. Se vou levar isso a sério e publicar alguma coisa física, cair no mundão, ou se vou seguir fazendo exatamente o que já faço há sei lá quantos anos.

Blogar faz parte da minha vida desde que os blogs começaram a existir. Perdi a conta de quantos já tive. Nenhum deles me proporcionou tanto aprendizado e me cativou como este espacinho empoeirado aqui. Eu sei que bastante gente me lê, não tanto quanto os blogs comerciais almejam, não tanto quanto os conteudistas caçam nas teias de internet, mas o bastante para saber que existe vida do outro lado. Por isso, obrigada a você que reserva um pouco do seu tempo para se conectar com o que escrevo.

Eu sinto falta de conversar sobre a escrita, por isso tenho participado de vários grupos de discussão no Facebook. Em um deles, começamos um projeto de escrita colaborativa, e eu estou entrando em pânico, fisicamente, sobre como vou me virar continuando uma história que não foi idealizada por mim. Será uma experiência nova, e, espero, engrandecedora.

Criei uma conta no Wattpad e tentei começar alguma coisa por lá. É difícil. Fico presa em encruzilhadas e não consigo produzir um texto que me satisfaça por completo. Digeri com cautela e racionalidade e concluí que tenho problemas em escrever algo pensando em agradar os outros. Sinto como se estivesse traindo a minha essência.

É desgastante e frustrante olhar o tanto de gente que tem o sonho de ser escritor de ficção, que escreve bem, mas que provavelmente só será publicado se tiver provas concretas de milhões e bilhões e zilhões de acessos e compartilhamentos. E eu não posso julgar ninguém, porque me rendi ao  Medium e confesso que estou viciada em verificar se alguém recomendou o meu texto ou não. Quero escrever para publicações, compartilhar minhas histórias, receber comentários e coraçõezinhos. Quero fazer parte de uma comunidade criativa.

E, no meio tempo, fui convidada para ser redatora do site do Feminaria, o primeiro espaço de coworking feminino do Brasil. Um projeto do qual sinto orgulho de participar e faço com maior amor.

Não quero me tornar uma escritora caça-cliques. Disso eu tenho certeza. Mas me pego pensando se essa minha relutância em escrever para os outros não será um empecilho na minha “carreira”.

O que é um escritor, se não alguém que escreve esperando que outra pessoa leia? Eu quero que me leiam. Eu, de verdade, e não uma história pré-moldada ao estilo que mais vende ou que mais agrada um público X ou Y.

Estamos num momento em que tudo se resume a números. Algumas estatísticas podem até ser consequência da qualidade do conteúdo, outras se resumem aos esforços de divulgação do autor ou da própria publicação – com impulsionamento de links patrocinados, publicidade em sites já muito acessados, entre outros métodos.

Ainda assim, não consigo deixar de pensar que, no fundo, a grande maioria dos escritores está interessada em quantidade, e não em qualidade. Quantos de nós ainda fazem arte, porque arte importa?

Sinto grande aflição porque não sei exatamente onde me encaixo nessa equação toda.

Começo a pensar em todas as vezes que me sento para produzir algum texto, debruçando minha alma sobre o papel e espremendo de dentro de mim tudo o que sou, em palavras. Será que é assim para todos os escritores? Sinto que sou repetitiva nesse assunto, eu sei, é que incomoda. Alfineta.

Publicar um livro, hoje em dia, é uma questão de dinheiro. Se você tem, consegue um bom negócio com editoras que podem até te ajudar a divulgar o seu trabalho e te alavancar para um pequeno nicho de leitores.

Ou então, é uma questão que mescla sorte, talento e muito trabalho. Você faz cursos de escrita criativa, senta, começa e termina. Revisa. Revisa de novo. Faz uma boa diagramação. Envia o seu livro para todo tipo de editora que tenha uma linha editorial condizente com sua obra, cruza os dedos e espera. E, se tiver dinheiro – de novo, o dinheiro, o motor da vida- e pouca paciência, vai em busca de um agente literário.

O sucesso, em qualquer um dos casos, vai depender da expectativa colocada no projeto. Eu me contentaria em vender, por exemplo, quinhentos exemplares, e isso para mim seria um grande êxito. Porque eu não estou nessa para ganhar dinheiro, eu escrevo por necessidade. Se um dia eu vier a obter algum lucro com isso, será um bônus.

O grande problema é que chega um certo ponto em que a gente precisa de validação. Eu tenho leitores, tenho pessoas próximas que exaltam o meu estilo, que me leem e se sentem representadas ou contempladas. O fato de eu não ganhar dinheiro com meus textos me faz sentir uma fraude.

Escrevo há trocentos anos e não tenho nada publicado, enquanto jovens que mal saíram da puberdade estão participando de antologias, fazendo tardes de autógrafos, viajando em turnês de palestras e divulgações. Eu me sinto uma fraude. Parece que estou há mil anos de conseguir afirmar, com razão, que sou, de fato, escritora.

E eu escrevo pouca coisa de ficção. Não sei se sirvo para inventar histórias, acho que leio melhor a realidade, mas quem é que consome realidade hoje em dia? São tantas as publicações gratuitas na internet que já oferecem esse tipo de leitura, que provavelmente vou continuar sendo uma escritora de caderninhos e blogues.

É realmente complicado conseguir olhar para este meu ofício, esta paixão, sem pensar em tudo isso. Continuo tentando discernir entre o que é melhor: escrever mais e aglomerar tudo e participar de todos os concursos, me inscrever em todas as antologias possíveis, aguardando uma oportunidade, enfim; ou seguir no silêncio do meu universo pessoal, até que um dia, quem sabe, uma grande epifania venha me salvar e me impulsione para a estante dos leitores.

Eu não tenho a resposta para as perguntas que fiz no título desse post. A certeza à qual me agarro é a de que, publicando ou não, o escrever me acompanha e seguirá sendo a minha prioridade. Com ou sem lucro, com ou sem cliques.